terça-feira, 2 de março de 2010

O Abandono

A página em branco é sempre um desafio. Ela fica ali me dizendo que há um infinito de possibilidades a escrever, mas somente uma coisa será a certa. Tal como a esfinge ela me desafia a desvendá-la e eu aceito a provocação.
Escrever é sempre este parto em que na maioria das vezes você não gosta do que escreve, ou abandona pela metade uma história que simplesmente deixou de fluir. É algo revoltante, que provoca nossas entranhas, pois uma história abandonada debocha da sua cara. Chama-te de covarde, de fraco, de incompetente. É como um filho jogado na sarjeta que pelo resto dos dias vai te atormentar, arrancando sua paz. E não importam quantos textos você escreva depois, que estes façam sucesso e que você vire um escritor renomado, mas ao deitar a cabeça em seu travesseiro, ouvirá o sussurro dos textos abandonados deixados na gaveta do escritório, exigindo uma atitude, e seu sono demorará, pois em sua cabeça, você buscará incessantemente pela continuação do texto abandonado. E é aí que reside a maior armadilha de todas, pois nestas voltas que sua cabeça dará, outros textos surgirão, e com eles a possibilidade de novamente surgir outro que sem final, será teu tormento pelo resto dos dias.

Um comentário:

celeal disse...

Muito bom isso. O livro Bartleby e Cia de Enrique Vila-Matas fala sobre escritores que pararam de escrever.
Abraços,
Carlos Eduardo